DICAS DE EDUCAÇÃO
A educação como forma de mudar a sociedade – análise do poema "o analfabeto político" de berthold brecht
Autor: SANDRA
Este artigo discute a concepção de democracia e de livre arbítrio a partir do poema "O analfabeto político" de Berthold Brecht. Em uma sociedade considerada democrática vivenciamos inúmeras demonstrações que dizem respeito à liberdade de igualdade política do cidadão. Nesse sentido, para Norberto Bobbio, a democracia caracteriza-se pela constituição pactuada de um conjunto de regras fundamentais que estabelecem quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos. Tais regras são denominadas por Bobbio, como universais processuais, em que todos os cidadãos para terem garantidos seus direitos políticos devem ter alcançado a maioridade etária sem distinção de raça, religião, condição econômica, sexo. Além disso, que o voto de todo o cidadão deve ter igual peso; que todos aqueles que gozam dos direitos políticos devem ser livres para votar; e que ser livres significa estarem em condições de fazer escolhas entre as diferentes soluções; que as eleições, sejam decisões coletivas e, finalmente, que deve valer a regra da maioria numérica para que nenhuma decisão tomada pela maioria limite os direitos da minoria.
Nesse sentido, falar de democracia é considerar que cada cidadão tenha uma consciência política que lhe permita pensar e decidir pelo voto naquele em quem acredita. Nesse aspecto devemos falar em livre arbítrio. Mas se ter livre arbítrio significa estar cultural e politicamente em condições de fazer escolhas que vão impactar não somente em sua vida, mas também de uma coletividade.
Sendo assim, exercer o livre arbítrio ou sermos democraticamente livres para tomarmos as decisões que nos convêm, para isso é importante considerar todo um contexto social no qual aquele que vota está inserido. Em tal situação ser democraticamente livre é considerar um conjunto de fatores sociopolíticos, do qual fazemos parte e que se modifica a partir de decisões individuais, mas que acabam impactando na vida de todos. Por exemplo, se resolvermos não limpar nosso jardim, quando vier a chuva, a enxurrada arrastará as folhas secas para o esgoto entupindo-o, provocando assim, um problema coletivo. Mas, se ao contrário, nossas ações servirem para resolver um problema nosso, automaticamente toda a sociedade se beneficiará. É assim, também, em relação ao pensar politicamente correto, se só penso em mim deixo de considerar que faço parte de uma coletividade e que irá sofrer caso em não recolha o lixo do meu jardim, fato que com a chuva pode se tornar um viveiro de mosquitos transmissores da dengue ou que esse lixo acabe entupindo bueiros provocando enchentes que atinge a realidade de muita gente por causa de uma irresponsabilidade individual, além de mobilizar, bombeiros, médicos, defesa civil, tudo isso acaba onerando os cofres públicos.
Agir politicamente é um dever de todos. Ninguém pode dizer que não gosta de política uma vez que todas as articulações das nossas vidas são por meios de questionamentos políticos. Como afirma o pensador florentino Nicolau Maquiavel no livro O Príncipe que "a política é a arte do possível". De acordo com essa afirmativa podemos dizer que uma consulta ao médico às brincadeiras dos nossos filhos com seus colegas, nada mais são do que atos políticos, visto que a todo instante está se negociando.
Uma negociação a respeito de horários disponíveis, das possibilidades de encaixe, tempo de duração, situações que exige um diálogo e, este, por sua vez, exige uma demanda política. No dia-a-dia dependemos fundamentalmente de decisões políticas. As negociações políticas são atos que retratam as diferenças de pensamento e isso só acontece entre indivíduos livres, negociar é evitar o conflito e conflito pressupõe a interferência da justiça ou de uma sanção. Negociar é uma das melhores formas de se exercer a democracia e com isso a melhoria das instituições sociais. Por isso, voltamos que nossa "ignorância" cultural não nos deixa ver com clareza que a todo instante estamos fazendo política quer gostemos ou não. O fato da concepção de política se tornar um tabu ou preconceito é porque está se tornou sinônimo de politicagem,
Como afirma Berthold Brecht "nada é impossível de mudar". Assim sendo, Brecht, nos chama a atenção para os processos de mudanças em que todos nós somos responsáveis. Para ele as mudanças surgem da necessidade das exigências socioeconômicas e culturais. Nisso, o homem deve buscar seus direitos. Direitos que pressupõe racionalização para não se tornar um completo alienado em um sistema capitalista que exclui aqueles que não conseguem acompanhar as inúmeras "revoluções" que acontecem ao longo da vida dos homens de modo que aqueles que se dizem alheio a política, mas não há nenhuma decisão que tomem que contrarie o conceito de política e de sua fundamental importância em sociedade democrática.
É participando ativamente das formações políticas em todos os micros sistemas sociais, como no nosso bairro, nosso município, no nosso estado que, consequentemente, ocorrem as mudanças no país. E o pensamento social o reflexo das decisões políticas. Se nos calarmos nos raros momentos que possamos dar o nosso grito não estamos contribuindo para a igualdade de direitos. Para a exigência dos nossos direitos.
Desta feita o poema afirma que "pior do que não saber ler é contribuir para o caos de toda uma sociedade", como menores abandonados, prostituição, entre outros problemas que se desenvolvem a partir de decisões que tomamos sem nenhuma reflexão. Não há verdade na máxima popular "rouba, mas faz". Há um analfabetismo vergonhoso e cruel. Não saber ler não impede uma pessoa de exercer seu dever político e contribuir para mudanças em todos os sistemas políticos do país. Mas a impede de tomar essa decisão criticamente.
Por isso, que a sociedade precisa de instrumentos que a torne mais crítica e reflexiva diante dessas decisões que constantemente toma. Pois, como dissemos escolhas políticas fazem parte da nossa rotina, mas aquelas que modificam e contribuem para o desenvolvimento social acontecem mais alternadas, não menos importantes. É aqui que ressaltamos a importância de uma formação de opinião em massa, que atinja a sociedade como um todo, desconsiderando aspectos como situações financeiras dos envolvidos nesse processo. E essa formação é possível quando essa discussão atinge os patamares do conhecimento educativo porque considera todos os sujeitos envolvidos, desde os educando aos educadores, uma vez que para ensinar, o professor precisa aprender criticamente. Segundo Raymundo (2011, p.24 ) o docente deve estar apto e preparado para "compreender e intervir na realidade social e escolar de modo crítico e transformador", contribuindo assim para a formação de uma sociedade menos alheia às ações políticas.
Ainda de acordo com Raymundo (2011)
[..] durante o processo de formação do professor é necessário um profundo conhecimento da realidade para que ele possa desvelar a sua complexidade e posicionar-se criticamente perante os acontecimentos sociais e escolares, bem como uma sólida fundamentação teórica, por meio da qual estabelecerá relações com a dinâmica interna da sala de aula, permitindo-lhe interpretá-la e intervir de forma consciente e planejada para a aprendizagem de seus alunos. (RAYMUNDO, 2011, p.24)
É por isso que educação deve preparar formadores capazes de desenvolver o censo crítico do seu público alvo, que são os estudantes, já que o que muito se ouve é que as crianças e os jovens são o futuro de um país, então, terá que se garantir, por meio de uma formação crítico-reflexiva, uma relação entre o que se apreendem em sala de aula e a realidade social de cada um. Os fatores sociais, políticas, econômicas e culturais do ambiente em que cada pessoa se encontra têm que ser considerados no momento de sua formação intelectual para que possam garantir uma participação efetiva e eficaz no desenvolvimento de ações políticas em sociedade. Como afirma Silva e Lara (2011, p. 10)
[...] cabe realçar que as políticas educacionais têm relação com as políticas gerais e estão subordinadas às políticas econômicas de ajustes estruturais [...] garantindo, assim, que o educador realce, no ambiente educativo, a importância de se buscar um desenvolvimento cognitivo que seja responsável por mudanças na forma do estado agir. (SILVA e LARA 2011, p. 10).
É na busca por uma junção entre teoria e prática que visa desfragmentar o conhecimento e trazer novas contribuições à formação de opinião dos indivíduos. Percebe-se que a capacidade de influenciar ou modificar começa a partir das atitudes que nós, como cidadão críticos, podemos tomar. Vimos que o estado garante a educação de todos como dever que se tem a cumprir, mas cabe aos agentes do processo educativo – educador e educando- a qualidade dessa educação, apoiando-nos no suporte que nos proporciona que é o direito de exigir qualidade.
Cabe a cada um buscar reflexões acerca da própria realidade social para decidir se quer lutar por mudança ou continuar alheio. Mas não podemos esquecer que qualquer que for nossa atitude irá contribuir de algum modo para o coletivo e o individual. Sendo assim, é preferível que façamos uma participação com resultado positivo. E isso, começa a partir do momento que se constrói uma visão de cooperação com o desenvolvimento da nossa sociedade. Começando por nosso fazer político. Começando por nos responsabilizarmos pelas decisões que cabe a cada um de nós. Como diz Brecht não podemos deixar que "privatizem o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence". E isso só é possível a partir do momento que se formam cidadãos preocupados com o reflexo daquilo que pensam e das suas próprias ações.
O Analfabeto Político
Bertolt Brecht
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais
Referências Biliográficas
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1999
Rau, Débora Toniolo; Lopes, Adriano (Orgs.) CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Princípios gerais para a elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos e científicos do CESUMAR. Maringá: Centro Universitário de Maringá, 2006.
MEGALE, Januário. O Príncipe (Maquiavel) – Roteiro de leitura. São Paulo: Ática, 1993. (Série Princípios).
MOREIRA, Jani Alves da Silva; LARA, Ângela Mara de Barros. Políticas públicas, legislação e estrutura da educação. Maringá - PR, 2011.
RAYMUNDO, Gislene Miotto Catolino. Fundamentos históricos e epistemológicos da educação e suas implicações para a prática pedagógica. Maringá, PR: 2011.
SAVIANI, Dermeval. As concepções pedagógicas na historia da Educação Brasileira.
SILVA, Jani Alves da; LARA, Ângela Mara de Barros. A reforma do Estado e a política educacional brasileira na década de 1990. MaringáPR: 2001.
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Perfil do Autor
Professora da Educação Básica da Rede Estadual de Mato Grosso, graduada em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso. Contato: sandra_bg1@yahoo.com.br